quinta-feira, dezembro 19, 2013

O Abraço de Morpheus


Reveste minha alma mais escura
Sussurra o silêncio em negro manto
Memórias amadas da cor mais pura
O viço das lembranças pinta o pranto

Neste pincel a vida desbota
Sob o óleo murmúrio a tinta
Em traços trágicos a sina composta
A tela onde a morte se pinta

A saudade minha lânguida alma encubra
Nestas pinceladas de sânie a lagrima grita
Vislumbra a triste arte exposta a penumbra
O amor moldura esta minha cripta

domingo, dezembro 01, 2013

Fumaça Tóxica

"O eu é um amigo para o homem cujo eu foi conquistado pelo Eu; mas para aquele que não está de posse de seu Eu, o eu é como um inimigo."¹

Aqui dentro solto em convergências intrincadas
A fumaça ascende ao esquecimento
E vejo formas incompreensíveis no pensamento

Aqui dentro há um ai que canta
Um sopro que gela e uma confusão nefasta
Aos gritos malditos torna-se a lâmina abstrata.

Aqui dentro uns ais dissipados
Uma mente destruída,
Uma alma sem alma num corpo sem vida!


¹Bhagavad Gita, Canto VI.

sexta-feira, novembro 15, 2013

Talvez


Aqui, bem distante, volto a reger.
Esse é um corpo estranho!
Pesado de insano tamanho,
Porém tem um sonho que não pode ver...

Esse triste templo de ambigüidades,
Já gasto, já machucado;
E de tantas almas porto alado,
Perdeu-se da carne e descansa em saudades...

Chorou há uns dias, pobre alma!
Desgostou da vida por tédio a inércia alheia
E na descrença creu-se calculada calma...

Morre a cada pensamento a centelha
Profundamente deprimido, tal como suave,
Agoniza para, com serenidade, partir feito uma ave...

domingo, outubro 13, 2013

Definhar

                                                          (um antigo poema)


Bravo o homem que de amor se embriaga
Pois onírico cultua apenas uma lembrança
Escrita nas folhas um sonho de esperança
A poesia que em suspiros de amor o afaga

Ébrio por tanto sentimento ressonante
Aspira ao alto o romance em raro efeito
Prova da linfa o puro amor perfeito
Imerso na eterna síntese inebriante

Confabula destinos imaginários
Delira em lembranças magníficas
Doloridas em devaneios secundários

Definha em memórias oníricas
Velando de esperança sonhos em langor
Que angustia assola meu peito é tanto amor!

segunda-feira, agosto 19, 2013

Suplício de Tântalo


Em meio aos desejos extasiantes
Masturbar-me em teu seio
Meu deleite impetuante
Megulharei em teu ventre
Sobre tuas lamúrias ardentes
Tão pálidas, cálidas, decadentes

E da carne que lhe resta somente o frio
Podres, fétidos pedaços sem brio
Restar-lhe-a apenas o vento sereno
A exaltar teu perfume sombrio

quinta-feira, agosto 08, 2013

Errante


Desertado do mundo ilusório,
A caminhar além dos destroços do que não é Natureza
Quantas ideias foram quebradas ao toque do sineiro
E, no silêncio vasto, um suspiro ainda há
O crepúsculo, o grande eclipse da existência:
Caminhar onde tudo é novo, e a intimidade
É um estado de vertigem entre o que se sente
E o que há de se cantar.
Sobre as ruínas de tanta mentira e sufoco
Paira a névoa das possibilidades.
E esse ar a me rasgar os pulmões
-No horizonte não há o fixo-
E essa angústia tênue a me exprimir
Todo um cosmos novo –leve-
Eu habitar!

sábado, junho 08, 2013

Brilho


É como se embriagar na fumaça,
com vórtices...
(que os números não medem)
perdendo-se com todas as coisas
na imensidão que tudo comporta.
Poesia de Loucos! -Blasfêmia!
Um doudo toca a craviola do Diabo
como quem acaricia o sexo!

Ah! Quantos enigmas Amigos!
Pois, resolvo-os todos:
Habitar onde tudo se perde.
Há maior liberdade ainda?

Ganho muito quando o ponto fixo perco!
Quantas ondas em minhas margens!
E o a-formal num instante se ergue.
Quem haverá de olhar o Infinito?
"Sentir-se pequeno por haver tantos espinhos
na existência. E, imenso, por poder superar
cada um deles."

As pragas secam!

domingo, maio 26, 2013

Transformação


Já que meu corpo 
começa a contar:

Andei por aí meio perdido
um tanto aturdido
pelo som inefável
das forças e do mutável
a permanecer no seu íntimo
completa impermanência
Dançando a existência no círculo
o fim e início como origem

Estou procurando um amor 
que não caiba numa imagem
e na amizade desconheça o século

No eterno alvorecer
a guerra dos contrários
Venha a harmonia tecer
a nós solitários
Metamorfose e torpor.